sábado, 9 de junho de 2012

O Cortejo Macabro

A rua ainda está molhada.
O aguaceiro que caiu vai longe.
Do velho campanário ouve-se alguns badalos
que fazem eco aqui, acolá.
No chão algumas formigas, displicentemente
procuram alimentos.
Subitamente são esmagadas
por sapatos enormes
que batem compassadamente.
Por alças de metal brilhante
um caixão preto é suspenso
por gente sem expressão.
É o cortejo do grande homem.
Alguns rangidos, janelas se entreabrem
e olhares curiosos são lançados à rua. 


O cortejo dirige-se à velha igreja.
Algumas rezas e logo saem donde
nunca entrara antes.
Marcham para o campo dos mortos.
Apressados empurram o caixão
para o local indicado.
Algumas colheradas de argamassa
lacram o túmulo do grande homem
que ficará aguardando
as trombetas divinas
no dia do juizo final.
Depois...
A noite chegou.
O grande homem sumiu.
A cidade dormiu.
O aguaceiro voltou.
Nada fez de bem.
Logo...
NADA DEIXOU.

Poesia criada em Sertão, 20 de agosto de 1984.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário, nossa alegria!