segunda-feira, 11 de junho de 2012

Descrença

Em uma rua qualquer, 
um sol causticante.
Pelas rugas, num rosto curtido
desliza suor abundante.
Olhos profundos,
amordaçados
e sem expressão.
As roupas aos trapos
escorridas, aos fiapos
contrastam na multidão.
Pés descalços, doloridos
calcanhares carcomidos
sangram ao contato
com as pedras quentes no chão.
Às costas, cadavéricas
um fardo nauseante
e é tudo o que tem...
Que disparate
e quanto desdém.
Contou-me:
Fora jovem, pretensioso, 
sonhador, ambicioso.
Até teve dinheiro e alguns amores
teve grande temor a Deus,
depois...
os dissabores,
mil desgraças,
mil horrores,
causados por caprichoso destino
deixaram-no ao desatino.
Vi
no vazio do seu olhar
duas grossas lágrimas rolar
e misturarem-se ao suor.
Com suas magras mãos tapou a face
e o silêncio voltou.
Descrente de tudo
segue mudo
na podridão do mundo.
pela estrada
do nada
no deserto
da imensidão.

Poesia publicada no Informativo do Banrisul em 1987, sendo criada na cidade de Muçum-RS.

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